06 dezembro 2008

Mutirão artístico é promovido

Por Daniel Leal


“Queremos reinventar, dar uma nova roupagem não só as músicas, mas a atitude das pessoas. Transformar os conceitos e integrar a consciência ecológica ao dia-a-dia das pessoas”. É com esse pensamento que um dos integrantes da Ação Comunitária Caranguejo Uçá, Edson Fly, juntamente com os demais integrantes do projeto e dos moradores da comunidade da Ilha de Deus, na Imbiribeira, Recife, promoveram ontem, um mutirão de grafitagem na localidade, colorindo um pouco mais as ruas e vielas do local. As atividades, inclusive, também terão prosseguimento, por todo o dia de hoje, quando será promovido um brechó - com feira de iguarias da comunidade local - petiscos marinhos, artesanato, mostra fotográfica e de vídeo, além de teatro e shows culturais.


Muitos jovens e adultos da Ilha passaram a aderir à grafitagem - até mesmo - como meio de vida. Galo Souza, 30 anos, é um exemplo para os jovens, já que deixou a pixação para se dedicar à arte. “Antes eu pixava, passei uns dez anos assim. Não era bom porque a gente tinha que ficar escondido e discriminado. No grafite você pode dialogar sua arte, mandar sua mensagem e ter reconhecimento”, falou Galo.


Para Fly, essas atividades também ajudam a dismistificar atitudes que, para ele, são artísticas. “Grafitar é a leitura do desejo de aprender e não apenas do vandalismo, como muitos interpretam. A idéia é fazer com que toda a comunidade se integre e participe”, diz.

05 dezembro 2008

Artesanato, grafite e música resgatam a cultura do mangue na Ilha de Deus

A Ação Comunitária Caranguejo Uçá promove na comunidade da Ilha de Deus o V Brechó Cultural que acontece nesse fim de semana. Hoje a partir das 14h haverá um mutirão de grafite que irá colorir as ruas da comunidade. À noite é a vez das apresentações teatrais. Trata-se de uma intervenção para valorizar as raízes da cultura do mangue que esse ano traz o tema “Comunidade do Mangue Apresenta-se”. O Brechó terá shows, festival de iguarias do mar, fotografias, vídeos, teatro de rua e artesanato. “Queremos reinventar, dar uma nova roupagem não só às músicas, mas à atitude das pessoas. Transformar os conceitos e integrar a consciência ecológica ao dia a dia das pessoas”, explica um dos produtores Edson Fly. Nessa edição o evento presta uma homenagem à memória de José Alves da Silva, cantador de cocos, e comemora o 13º aniversário do Documento Nordeste, parceiro do Caranguejo Uçá.

Os shows acontecem amanhã, dia 6, a partir das 15h, no palco montado na Rua São Geraldo, S/N, ao lado da sede do Caranguejo Uçá. Entre as atrações estão Talis Ribeiro e Ceará, Estado Civil, N Zambi, Reggae Por Nós, Zé Brow, Luiz Paixão, Dona Cila e Êxito de Rua. Também serão exibidos os trabalhos realizados por jovens da comunidade durante a semana nas oficinas de Fotografia e de Artesanato.
Além da programação musical e teatral, o Brechó também traz um festival gastronômico que estimula a economia da Ilha e valoriza a culinária local com a venda de pratos feitos à base de camarão, sururu, mariscos e pescados.

Homenageado – José Alves da Silva era conhecido na comunidade como Zé Porquinho, um símbolo de resistência cultural. Além de pescador, pedreiro e eletricista, ficou famoso na Ilha de Deus como cantador de coco. Seus versos embalavam os devotos de São Pedro, em dia de procissão por hora da festa do santo, nos meses de junho. Rei do improviso, Zé Porquinho não deixou suas letras escritas. Na memória do povo permanecem o ritmo e a alegria de suas canções. Faleceu em setembro de 2006 aos 63 anos.

Fotografia - Usada como um recurso de inclusão, a fotografia fortalece o núcleo de comunicação e possibilita um registro da comunidade através dos olhos de quem nela vive. A oficina “Descondicionando o olhar” ministrada por Mateus Sá pretende estimular outra forma de “ver” e sensibilizar o olhar crítico.

Zé Porquinho

A Ilha de Deus é cheia de personalidades. Pessoas que tem um recado a dar, uma história pra contar, mesmo que seja de pescador. Uma delas foi José Alves da Silva, o homegeado dessa edição do Brechó. Nascido em 14 de março de 1943, Zé Porquinho, como ficou conhecido na comunidade, era um homem bem humorado. Pai de doze filhos, ele ganhava a vida como pescador. Ganhava a vida não. Ele era um profissional da pesca. Dona Nicinha, a patroa, hoje já perdeu as contas de quantas histórias de pescador ouviu o falecido marido contar. A jovem senhora, de 67 anos e sorriso fácil, lembra-se de uma apenas. “Essa eu lembro por que é verdade. Ninguém me contou. Eu mesma vi. Meu marido pegou um tubarão. Trouxe aqui pra casa e pendurou no terraço. Dava pra ver que era muito maior do que eu. E bota maior nisso”. Conta dona Nicinha, que os vizinhos não acreditavam que Zé Porquinho havia mesmo pescado aquele tubarão. “Todos faziam graça. Perguntavam: “Ei, Zé porquinho cade o peixe que o navio te deu?”.

Homem forte e cheio de disposição, Zé Porquinho levantou as paredes da sede do Caranguejo Uçá, que, inicialmente, foi construída para ser a casa do Pescador, onde funcionaria um frigorífico para conservar o pescado. Valdinéia Alves, de 29 anos, conhecida como Neinha, é uma das filhas desse famoso Zé. Ela lembra com carinho das vezes em que via o pai apelidando os amigos e vizinhos. Paturi e Tartaruga Touché são só dois nomes de uma lista de dezenas usados por Zé Porquinho para fazer graça com os amigos. Também conhecido por tomar as dores dos outros, ele ficava aborrecido quando via alguém bater numa criança ou machucando um animal. Entre suas habilidades também estava a de eletricista. Era ele quem dava jeito na fiação da casa quando aparecia algum problema. “Até o aparelho de som ele desmontava. Ele não sabia ler, mas sabia de tudo um pouco”, relembra Dona Nicinha.

Além de pescador, pedreiro, e eletricista, Zé porquinho ficou famoso na Ilha de Deus como cantador de coco. Seus versos embalavam os devotos de São Pedro, em dia de procissão por hora da festa do santo, nos meses de junho. Rei do improviso, Zé Porquinho não deixou suas letras escritas. Só o ritmo e alegria de suas canções permanecem na memória do povo, firmes como as paredes das construções que ajudou a erguer.